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NA HORA DE ESCOLHER O PAI: DOADOR OU AMIGO?




Essa decisão deve ser tomada logo no início do processo, pois, caso você opte pelo amigo como doador, ele precisará estar disponível para enfrentar todas as etapas do tratamento. Isso envolve um compromisso emocional e logístico significativo, já que o amigo terá que comparecer às consultas, realizar exames e, principalmente, estar preparado para as implicações emocionais que podem surgir. No caso de escolher um doador anônimo, a situação é diferente.


A maior questão aqui é a aceitação pessoal de escolher para pai do seu filho uma pessoa que você nunca conhecerá. Cada uma dessas opções tem seus prós e contras, e a escolha não é simples. O lado positivo de ter um amigo como doador é que você conhece detalhes importantes sobre ele: origem, família, caráter, histórico de saúde familiar e, claro, a aparência física. Esses fatores podem trazer uma sensação de segurança, afinal, você sabe de onde vem "a sementinha" que vai dar origem ao seu bebê.


Mas, essa proximidade também pode ter desvantagens significativas. A presença do amigo pode, eventualmente, resultar em invasões na sua privacidade, em demandas por participação nas decisões que dizem respeito ao seu filho e até mesmo em disputas legais(cuidado!). Como pai biológico, ele terá direitos que podem interferir na sua autonomia como mãe solo, como a exigência de pensão alimentícia, visitas e outras questões jurídicas que podem surgir com o tempo.


Além disso, o que parece ser uma situação ideal durante a gestação pode se transformar em uma fonte de conflitos no futuro. As pessoas mudam de opinião, reavaliam suas prioridades e crenças, e aquilo que era um acordo simples pode se complicar à medida que a criança cresce. As expectativas do amigo podem se transformar, gerando tensões e até disputas judiciais sobre o papel dele na vida da criança.


Por outro lado, optar por um doador anônimo também tem suas desvantagens. Você não conhecerá sua aparência, seus traços de personalidade, nem terá acesso a alguns dados importantes sobre seu histórico familiar e genético. Existe uma segurança envolvida nesse processo. Hoje em dia, os doadores passam por exames rigorosos e frequentes, o que garante um nível de segurança muito maior do que no passado. E nesse cenário, você mantém total controle sobre as decisões relacionadas ao seu filho, sem interferências externas. As opiniões que você leva em consideração são apenas aquelas que você escolhe ouvir, o que pode tornar o processo mais tranquilo e menos complicado.


No meu caso, cheguei a considerar um amigo como doador. Ele parecia ser a escolha perfeita, alguém em quem eu confiava plenamente. Mas, à medida que discutíamos a possibilidade, ele começou a expor suas condições e medos, o que fez com que ele acabasse desistindo. Naquele momento, percebi que essa história era minha e de mais ninguém. Eu precisava seguir com ela sozinha. Dividir essa jornada com ele, no final das contas, traria mais dores de cabeça do que conforto.


Agora vale a reflexão: seguir sozinha não significa estar sozinha. Eu tive o apoio das minhas amigas mais próximas (BFFs) e também da minha querida família durante a minha gravidez e o resto da vida.


Quando decidi optar por um doador anônimo, recebi uma lista do meu médico e me lembro claramente do momento em que comecei a escolher o doador. Sentei em um bar, pedi uma taça de vinho (o que recomendo) e comecei a analisar as opções. Na época, em 2012, a clínica me orientou a selecionar seis doadores, pois poderia acontecer de os primeiros nomes escolhidos não estarem mais disponíveis. Fiz um ranking das minhas opções, mas, no final, a disponibilidade recaiu sobre minha última escolha. A diferença entre os doadores? Apenas a cor do cabelo, peso, altura, e a profissão, detalhes que, hoje, percebo serem pouco relevantes em comparação ao que realmente importa.


Hoje, olhando para minha filha e vendo como ela é, percebo que foi a melhor decisão que poderia ter tomado. A jornada foi e ainda é



desafiadora, mas o resultado valeu cada momento de incerteza. A escolha de um doador anônimo me permitiu construir minha família do jeito que eu queria, e, apesar de todas as dificuldades, foi uma decisão que me trouxe paz e realização.

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